quinta-feira, 18 de agosto de 2011


Silêncio


Gosto deste meu silêncio árido, onde percorro sem temer o sol escaldante dos meus sentimentos, onde os dissabores de seus raios me causam queimaduras. Este silêncio que permite que eu enxergue almas distantes e arredias, cactos cobertos de espinhos, que apesar de toda brutalidade ainda fazem brotar flores.

Outras vezes prefiro este meu silêncio evanescente, que me permite observar o espírito daqueles que me cercam. Este silêncio que me faz sorrir quando uma pessoa me mostra pedacinhos de sua essência.

Ainda há aquele meu silêncio, quando meu coração está pulsando junto com outro, quando  abraço outro corpo, silêncio da minha respiração, da minha língua...

Por vezes me inebria, aquele meu silêncio musical que doma meus movimentos, girando-me como papel em redemoinho, silêncio que me acalma.

Por hora, estou farto do meu silêncio melancólico, aquele que esbofeteia os dois lados da face, que nutre minha angústia e medo, silêncio que me desequilibra na corda bamba que atravesso todos os dias, que está amarrada nos topos dos prédios de minhas expectativas. Este silêncio que pesa em minha vara de equilíbrio, o mais mortal de todos.

Ganhei para sempre este silêncio contemplativo e filosófico, que se perde em meus olhares abstratos, silêncio que me inicia nos mistérios da vida. Este silêncio que me ensinou a aceitar a efemeridade de tudo...

Convivo e aproveito do meu silêncio.

Espero que saibas apreciá-lo. Ele surge quando as minhas palavras não são suficientes, quando meus olhos e gestos passam a ser meus versos, minhas piadas, minhas críticas...

Segure-o firmemente em suas mãos, como a mais delicada cria de uma ave, encoste-o em seu peito, só assim sentirá o escândalo nele depositado.

 Ao som de Depeche Mode -  Enjoy The Silence 



sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Vivo com...


Vivo com as promessas matutinas que as cores me trazem
Alimentadas pelo sorriso dourado de uma criança
Que caminhará trôpego por minha lembrança
Que renasce a cada poema daqueles que agora jazem.

Vivo com esta inspiração tímida, porém ousada
Semente verde de raízes encravadas na alma
Cresce como lírio ou a mais branca palma
Cresce sabendo de sua beleza, portanto aclamada

Vivo com a vontade de dizer que sinto saudades dos amigos
Meu ato político contra a falta de tempo da modernidade
Grito de revolta contra os rostos sem face da sociedade
Grito de coragem mais sólido entre todos meus abrigos

Vivo com estes beijos brotando em meu peito fatigado.
Nutridos com o brilho de meus olhos depois dos aplausos
Voar todos irão, como libélulas rubras fugindo dos claustros
Voar todos irão, pelas longínquas cidades do meu mapa rasgado

Vivo com a necessidade de ser novamente amado
E de sentir o gosto salgado e refrescante das lágrimas
De esquecer as incertezas ocultas nas lástimas
De esquecer outros olhares e atender a um novo chamado


Insônia. 05 de Agosto de 2011 às 00:20, ao som de Paris Nights New York Mornings – Corinne Bailey Rae