Silêncio
Gosto deste meu silêncio árido, onde percorro sem temer o sol escaldante dos meus sentimentos, onde os dissabores de seus raios me causam queimaduras. Este silêncio que permite que eu enxergue almas distantes e arredias, cactos cobertos de espinhos, que apesar de toda brutalidade ainda fazem brotar flores.
Outras vezes prefiro este meu silêncio evanescente, que me permite observar o espírito daqueles que me cercam. Este silêncio que me faz sorrir quando uma pessoa me mostra pedacinhos de sua essência.
Ainda há aquele meu silêncio, quando meu coração está pulsando junto com outro, quando abraço outro corpo, silêncio da minha respiração, da minha língua...
Por vezes me inebria, aquele meu silêncio musical que doma meus movimentos, girando-me como papel em redemoinho, silêncio que me acalma.
Por hora, estou farto do meu silêncio melancólico, aquele que esbofeteia os dois lados da face, que nutre minha angústia e medo, silêncio que me desequilibra na corda bamba que atravesso todos os dias, que está amarrada nos topos dos prédios de minhas expectativas. Este silêncio que pesa em minha vara de equilíbrio, o mais mortal de todos.
Ganhei para sempre este silêncio contemplativo e filosófico, que se perde em meus olhares abstratos, silêncio que me inicia nos mistérios da vida. Este silêncio que me ensinou a aceitar a efemeridade de tudo...
Convivo e aproveito do meu silêncio.
Espero que saibas apreciá-lo. Ele surge quando as minhas palavras não são suficientes, quando meus olhos e gestos passam a ser meus versos, minhas piadas, minhas críticas...
Segure-o firmemente em suas mãos, como a mais delicada cria de uma ave, encoste-o em seu peito, só assim sentirá o escândalo nele depositado.
Ao som de Depeche Mode - Enjoy The Silence